sábado, 26 de abril de 2008

Flaming

Flamejantes são as palavras; eu posso vê-las, todavia, a recíproca não é verdadeira.
Como dizia, sutilmente, a bela Lispector: "A palavra é meu domínio sobre o mundo."
Fluindo através dos céus estrelados, as palavras viajam pelos mais intrínsecos momentos, elas estão por toda parte, e posso vê-las por toda parte.
Sejam nas nuvens azuis, sejam nas paredes rabiscadas, sejam em mentes alucinadas lá estão elas, o domínio do mundo. Flamejantes, literalmente flamejantes.
As palavras têm um brilho indiscutivelmente único, variam dos mais intensos tons aos mais doces nuances, elas têm um poder indiscutivelmente encantado, capaz de entorpecer, de alucinar e nos deixar fantasmagoricamente atônitos. Como fantasmas, como unicórnios.
Sejam impressas em páginas amareladas, sejam vistas em telas planas, mais uma vez lá estão elas, ora arrancando sorrisos, ora arrancando lágrimas, ora moldando a luz.
Os 'pequenos' rabiscos flamejantes são mágicos, desenham o físico, pincelam o metafísico.
Traduzem amores, cores e olores, nomeiam o inexistente, permeiam o que ficaria apenas na mente, tais como os unicórnios. As vezes elas parecem não fazer sentido algum, mas sempre há um significado, prolixo ou não, metódico ou não. Todas elas têm um significado, ainda que alguns deles não recebam o devido respeito, ainda que alguns deles sejam contorcidos e quebrados.
As palavras são o meu domínio sobre o mundo, então é preciso que estes rabiscos flamejantes sejam utilizados no ápice de tais belezas, no ápice destes brilhos tais, que só sabem reluzir quando escritas, ainda que seja num papel, ainda que seja em uma nuvem azul.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Mathilda Mother

Os dias têm corroborado cada vez mais que somente vagando no ar da infância é que podemos manter uma visão de mundo encantado...
Hoje com toda esta maldade que viaja livre, está difícil ler as nossas linhas favoritas com um tom de fantasia; não que as palavras tenham perdido o encanto, mas há um mundo tão feio lá fora que este vazio -causado pelos intensos desejos de ser rodeado demais- parece sufocar, temos pessoas demais ao nosso redor, mas sentimo-nos sozinhos, é possível?
O mundo já se mostrou suficientemente desencantado, então se basta-nos apenas transportarmo-nos para outro(s) mundo(s), que não sejam ocos como este, não devemos deixar que os tons de fantasia continuem a se perder pelo caminho, porque se for assim, como é que continuaremos a viver? Espairecidos até a morte? E de que bastar-nos-á ler tais histórias se for com o mesmo tom que usamos para chorar nossas próprias desgraças?
É necessário que mantenhamos esta visão infantil, de tudo, tudo mesmo; pois senão nossos olhos cegar-se-ão perante tantas coisas feias, ocas, vazias, ocas, tais como as almas que costumam semear cores cinzas.
É necessário que mantenhamos as cores da nossa alma, e que não deixemos os tais seres ocos desbotá-las, nós seres humanos podemos ser muito mais, podemos amar sem precisar ver morto, podemos amar sem pedir que se ame primeiro...
Tudo, absolutamente tudo está sendo modificado: valores, idéias, sonhos e ideais.
As palavras tinham significados diferentes, sim, elas tinham...
Seria tudo mais formoso se pudéssemos ler as nossas próprias histórias, e que elas, estas mesmas escritas por nós, fossem capazes de nos encantar...
Tudo é tão diferente aqui fora, cada dia parece mais impossível dar continuidade aos nossos sonhos, as nossas fantasias e encantos.
Oh Mathilda, conte-mais, o mundo precisa de histórias para ouvir.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Lucifer Sam

Ainda existem aqueles que insistem em levantar falso quanto aos gatos. Tais felinos têm algo que eu realmente não consigo explicar...
Um siamês e toda a sua elegância remetem uma postura indubitavelmente nobre e elevada. Postura a qual esbanja ares reais, isso, uma realeza inata que só estes felinos têm; realeza também a qual todos os humanos deveriam ter ou pelo menos almejar. Como seria a vida se tivéssemos ao menos um pouco daquilo que têm os gatos?
Visão, personalidade, inteligência e é claro, o porte.
Nós humanos realmente deveríamos ser um pouco gatos; parar de lutar por tantas coisas se tão pouco é aquilo que realmente nos interessa, pouco que é muito grande demais, enquanto aquilo que parece ser tão importante é tão pequeno e dispensável...
Deveríamos ser como os gatos, que de infiéis não têm nada.
Deveríamos ser como os gatos, que em sua frieza sabem ser gentis, que tanto parecem ser indiferentes quanto àqueles que não conhecem, mas que se mostram literalmente piegas com os donos. E o melhor de tudo, oferecem-nos de quando em quando um calor verdadeiro e não uma recepção efusiva e falsa.
Estes felinos têm algo que eu não consigo explicar.
Sempre sentado ao seu lado, com os olhos ao longe sem deixar de notar aquilo que está logo ao lado, se mexendo minuciosamente.
Precisamos ser um pouco mais gatos: mais nobres, mais astutos e mais frios sem deixar de ser piegas...

domingo, 20 de abril de 2008

Astronomy Domine

Como um segunda cena; em geral, é assim que a vida acontece.
Parece já ter sido sentida, tocada, imaginada, a vida é inócua e vazia, típica, como uma segunda cena.
E é assim que tudo vem acontecendo, uma vez mais, uma vez mais...
Uma luta entre o já conhecido.
O domínio dos astrônomos prepondera perante os sons que ressoam e ecoam na eternidade, ecoam no subterrâneo.
É tudo uma questão de domínio e onde está a liberdade de flutuar?
Sobrevoar os ecos, transpassar a melodia melosa do vento...
Os dias têm sido dominados pelos loucos astrônomos, que lá de cima gritam, sentem medo, e de uma maneira presunçosa transmitem todo o medo que viaja pela abóbada.
Os dias têm sido como uma segunda cena, límpidos e ofuscantes, oscilam das mais profundas dores às mais intensas alegrias, balançam, cintilam, reluzem, ao mesmo tempo trazem dor e esperança.
É assim que tudo vem acontecendo.
De uma maneira planejada, dominada, presa e limitada.
Os astrônomos estão limitando-nos a vida, tornando-nos um simples rascunho, um rabisco qualquer.
Quem são eles?
Suas roupas são azuis?
Ou verde-limão?
Eles têm maletas? lunetas?
Eles nos apavoram, quem são realmente os astrônomos?
E porque estamos no seu domínio?